Certeza, saber e verdade na práxis de Freud e a orientação para o real formalizada por Lacan
DOI:
https://doi.org/10.31683/stylus.v1i47.1070Palavras-chave:
Psicanálise, Real, Certeza, Saber, Verdade, Lacan, FreudResumo
Algumas homologias aproximam Freud de Descartes no que diz respeito à dúvida como via na busca do saber: a dúvida metódica cartesiana e o método da associação livre e interpretação pressupõem, ambos, a destituição do eu como fonte segura e isenta de alienações e equívocos. A partir daí, ambos extraem sua certeza: a existência da res cogitans, no caso de Descartes, e o inconsciente, no caso de Freud. Os dois operam cortes no saber e criam campos anteriormente inexistentes: a ciência moderna e a psicanálise. Mas existem também as dissimetrias, mostra Lacan no Seminário 11. Se o real em Descartes está na báscula do “eu penso” para o “eu existo”, a busca do verdadeiro o leva a recorrer à res infinita: Deus. Já em Freud, a certeza advém da persistência da dúvida, e não de sua eliminação. Há nele um amor pela verdade e uma paixão pelo significante que às vezes o posicionam como mestre da verdade do inconsciente de seus analisantes. Mas, ao não se furtar às decepções com os erros, os tropeços em sua práxis sempre o confrontam com o real: a falta a que o sujeito não pode se furtar. Pretendo refletir sobre como, ao não buscar a garantia de um Grande Outro e não esmorecer em sua busca, Freud resguardou a impotência da verdade no campo da psicanálise. A partir disso, Lacan definiu o real como núcleo de certeza a que todas as ficções remetem sem esgotar e formalizou a disjunção entre saber e verdade. É por isso que, no discurso do analista, esse se sustenta no lugar dominante como semblante de objeto causa do desejo e aloca o saber no lugar da verdade.
Downloads
Referências
Barbosa, M. L. de O., & Quintaneiro, T. (2002). Carisma e desencantamento do mundo. In T. Quintaneiro, M. L. de O. Barbosa, & M. G. Oliveira. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber (2a ed. rev. e amp., pp. 131-133). Belo Horizonte: Editora UFMG.
Des Cartes, R. (1644). Specimina philosophiae, sev Dissertatio de methodo recte regendae rationis & veritatis in scientiis investigandae: Dioptrice et Meteora. Amstelodami: Apud Ludovicum Elzevirium.
Descartes, R. (1637). Discours de la méthode pour bien conduire sa raison et chercher la vérité dans les sciences. Leyde: De l’Imprimerie de Jan Maire.
Descartes, R. (1907). Regulae ad directionem ingenii. Leipzig: Dürr’schen Buchhandlung. (Trabalho original publicado em [1619-1628] 1701)
Descartes, R. (1973). Discurso do método para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências (Vol. XV, pp. 33-79). São Paulo: Abril. Coleção Os Pensadores. (Trabalho original publicado em 1637)
Descartes, R. (1973). Meditações concernentes à primeira filosofia nas quais a existência de Deus e a distinção real entre a alma e o corpo do homem são demonstradas (Vol. XV, pp. 81-150). São Paulo: Abril. Coleção Os Pensadores. (Trabalho original publicado em 1641)
Descartes, R. (2007). Meditationes de prima philosophia. Project Gutenberg’s Meditationes de prima philosophia, by René Descartes. E-book. Recuperado em 21 de janeiro, 2024, de www.gutenberg.org/files/23306/23306-h/23306-h.htm. (Trabalho original publicado em 1641)
Freud, S. (2010). Uma dificuldade da psicanálise. In S. Freud. História de uma neurose infantil: (“O homem dos lobos”); Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920) (pp. 240-251). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1917)
Granger, G.-G. (1973). Introdução. In R. Descartes (1637). Discurso do método para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências (Vol. XV, pp. 11-30). São Paulo: Abril. Coleção Os Pensadores.
Lacan, J. (1978). Discours de Jacques Lacan à l’université de Milan, le 12 mai 1972. In Lacan in Italia 1953-1978. En Italie Lacan (pp. 32-55). Milan: La Salamandra. Recuperado em 9 de fevereiro, 2024, de https://ecole-lacanienne.net/wp-content/uploads/2016/04/1972-05-12.pdf. (Trabalho original publicado em 1972)
Lacan, J. (1988). Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. O seminário: livro 11 (3a ed.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964)
Lacan, J. (1998). A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In
J. Lacan. Escritos (pp. 496-533). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1957)
Lacan, J. (1998). A ciência e a verdade. In J. Lacan. Escritos (pp. 869-892). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)
Lebrun, G. (1973). Prefácio. In R. Descartes (1637). Discurso do método para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências (Vol. XV, pp. 7-8). São Paulo: Abril. Coleção Os Pensadores.
Mora, J. F. (2005). Dicionário de filosofia (2a ed., T. II [E-J]). São Paulo: Edições Loyola. (Trabalho original publicado em 1994)
Weber, M. (2004). A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1904-1905)
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Ao encaminhar os originais, os autores cedem os direitos de publicação para STYLUS.
Os autores assumem toda responsabilidade sobre o conteúdo do trabalho, incluindo as devidas e necessárias autorizações para divulgação de dados coletados e resultados obtidos, isentando a Revista de toda e qualquer responsabilidade neste sentido.