Corpo Estranho

Resumo

Esse trabalho apoia-se no enunciado de Lacan (1972-1973): “O gozo do Outro, do corpo do Outro que O simboliza, não é o signo do amor”. O gozo do Outro, do corpo do Outro, aponta para a impossibilidade que figura entre saber e verdade. Do gozo do parceiro na relação sexual nada se sabe; bem como do gozo do próprio corpo pouco se sabe, gozo contingencial e evanescente, que não se apreende e aponta para a verdade da não relação sexual. Lacan (1962-1963) menciona a experiência do íncubo para ilustrar a angústia promovida pelo gozo do Outro. As primeiras manifestações sexuais na passagem para a adolescência podem ser experimentadas como intrusão do gozo do corpo como horror, podendo chegar até a fenômenos de despersonalização. Dois fragmentos clínicos e algumas passagens da peça “O despertar da Primavera” (Wedekind, 1891/2009) o ilustram. O amor busca, de maneira equívoca, fazer Um a partir desse encontro faltoso e falhado. Amor que uma análise pode franquear, na medida em que, paradoxalmente, deixa-se cair a pergunta sobre o que se é nisso.