O forçamento por onde o psicanalista pode fazer ressoar outra coisa

Autori

  • Ana Laura Prates Pacheco

DOI:

https://doi.org/10.31683/stylus.vi27.734

Parole chiave:

Psicanálise, interpretação, escrita, poética

Abstract

A proposta deste trabalho é a de articular as consequências dos avanços elaborados por Lacan em seu último ensino, para a experiência psicanalítica. Se a correspondência entre a linguagem e o real é da ordem do impossível, se a transmissão integral é impossível, a pergunta que não se cala é qual a resposta ética do psicanalista quando o destino da mensagem passa a ser o ab-sens da relação sexual humana, relação essa que não é natural, mas “tomada pelas palavras”? Essa é a questão clénica e ética essencial: a psicanálise não visa tanto à verdade por trás do que isso quer dizer, mas antes, o fato de “que se diga”. Para além do sentido, o psicanalista faz ressoar outra coisa – afirma Lacan em 1977. Para tanto, é preciso o que ele chama de “forçamento”, que remete ao ato analítico como resposta, sem o qual a psicanálise pode vir a capengar irredutivelmente a um “autismo a dois” (LACAN, 1977). É preciso, assim borrar a diferença entre a verdade e a ficção já que “o que o analisante diz, esperando verificar-se, não é a verdade, é a vari(e)dade do sinthoma”. Mas atenção: essa despretensão da verdade não justifica em absoluto um relativismo da desconstrução, já que as “verdades mentirosas” apontam todas para o real de que o gozo é a castração. Eis a ousadia clénica e ética que a psicanálise oferece: a aposta no bem dizer como resposta do psicanalista diante do impossível de dizer tudo é o que se espera de uma clínica que inclua passe. Lá, onde não há Outro que responda, nem sujeito que corresponda. Lá, onde não há carteiro da verdade há, entretanto algo que a letra/carta carrega: o valor sonoro da função poética, que toca o real, para além do valor semântico da verdade – e que faz ressoar no corpo (encore). Eis as questões que pretendo abordar neste trabalho.

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Biografia autore

Ana Laura Prates Pacheco

Psicóloga. Doutora em Psicologia Cl.nica pela USP. Pós-Doutorado em Psicanálise na UERJ. Psicanalista. Membro da EPFCL – Brasil e do FCL – SP. AME da EPFCL Coordenadora da rede de pesquisa de psicanálise e Infância. Autora de “Feminilidade e experiência psicanalítica” ( 2001) e de “Da fantasia de infância ao infantil na fantasia” (2012).

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em 22 de julho de 2013.

Pubblicato

2013-10-11

Come citare

Pacheco, A. L. P. (2013). O forçamento por onde o psicanalista pode fazer ressoar outra coisa. Revista De Psicanálise Stylus, (27), pp. 13–21. https://doi.org/10.31683/stylus.vi27.734

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